Sobe para 91 número de mortos devido às chuvas no Grande Recife; total de desabrigados chega a 5 mil

Há 26 pessoas desaparecidas no estado e buscas chegaram ao terceiro dia. Principal ponto em que as buscas ocorrem é em Jardim Monte Verde, entre a capital e Jaboatão.

Por Pedro Alves, Katherine Coutinho, Vítor Oliveira e Mhatteus Sampaio,

Aumentou para 91 o número de mortos no Grande Recife, vítimas das fortes chuvas e deslizamentos de barreira que ocorrem em todo o estado há uma semana. O número de óbitos foi atualizado pelo governo de Pernambuco, no final da manhã desta segunda-feira (30).

A primeira morte foi confirmada na quarta (25). O governo do estado atualizou para 26 o total de desaparecidos. O número de desabrigados, que era mais de 3,9 mil até o domingo (29), aumentou para 5 mil nesta segunda (30), principalmente nos municípios da Região Metropolitana e da Zona da Mata.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) sobrevoou, na manhã desta segunda-feira (30), algumas das áreas mais atingidas pelas chuvas no Grande Recife. Acompanhado por ministros, ele lamentou a tragédia e criticou a ausência do governador Paulo Câmara (PSB) no evento.

A Agência Pernambucana de Águas e Clima (Apac) informou que as chuvas reduziram de volume, mas devem continuar com intensidade moderada até sexta-feira (3) no Grande Recife e na Zona da Mata. A Defesa Civil de Pernambuco (Codecipe) reforçou o alerta sobre o alto risco de deslizamentos, devido ao solo estar bastante encharcado.

Buscas

Nesta segunda-feira (30), as forças de segurança, Defesa Civil, Exército e órgãos municipais atuam em sete pontos de deslizamento no Grande Recife: Zumbi do Pacheco e Curado IV (Jaboatão dos Guararapes); Areeiro (Camaragibe); Jardim Monte Verde/Ibura, Barro e Guabiraba (Recife) e Paratibe (Paulista).

Estão sendo empregados nessa operação: 198 bombeiros militares de Pernambuco, 11 bombeiros da Paraíba, 7 de Minas Gerais, 8 do Rio Grande do Norte, 8 policiais militares, 100 guardas municipais e 25 funcionários da Autarquia de Manutenção e Limpeza Urbana do Recife (Emlurb); 60 militares do Exército, 22 profissionais da Marinha e 4 policiais civis.

Nas buscas, salvamentos e fornecimento de mantimentos para populações de áreas afetadas, estão sendo empregadas embarcações e seis aeronaves, sendo três do Grupamento Tático Aéreo da Secretaria de Defesa Social e três da Policia Rodoviária Federal.

O Jardim Monte Verde é o principal ponto de buscas de desaparecidos. Só nesse bairro, que fica no limite entre o Recife e Jaboatão, mais de 20 pessoas morreram soterradas e tiveram os corpos resgatados da lama. Entretanto, segundo o Corpo de Bombeiros, ainda há vítimas desaparecidas entre os escombros.

O Instituto de Medicina Legal (IML) chegou ao local para levar os corpos. No domingo (29), a sede do órgão ficou cheia de parentes de vítimas tentando liberar os corpos dos familiares.

Uma das vítimas encontrada nesta segunda estava na região de Jardim Monte Verde conhecida como Capelinha. Outras duas foram achadas noutro ponto da comunidade. Esses últimos corpos foram indicados pelo cão farejador Fênix, um labrador do Corpo de Bombeiros.

“Achamos uma vítima e tem a possibilidade de ter mais três vítimas ou seis soterradas. As informações divergem. Em outro ponto foram encontradas duas vítimas que faltavam e provavelmente lá vai encerrar as operações”, afirmou o major João Paulo Ferreira da Costa, que comandou as buscas nas últimas 24 horas.

IML recolhe corpo de pessoa soterrada por barreira em Jardim Monte Verde — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

IML recolhe corpo de pessoa soterrada por barreira em Jardim Monte Verde — Foto: Mhatteus Sampaio

As buscas são feitas por moradores, pelo Exército e pelos bombeiros de Pernambuco e de outros estados, que enviaram efetivo para ajudar o estado em meio ao desastre.

De acordo com o superintendente da Defesa Civil de Jaboatão, Arthur Paiva, embora a chuva não esteja tão intensa quanto nos dias anteriores, ainda há riscos de desastres na região.

[O risco] é bastante alto. Essa área aqui, realmente, toda ela está totalmente afetada, a encosta está muito encharcada, as chuvas não pararam e há possibilidade de novos deslizamentos. Por isso, nós interditamos todas as casas de cima [da barreira]”, explicou.

Moradores

Luis Carlos de Lima participou de resgate a vítimas de deslizamento de barreira em Jardim Monte Verde — Foto: Mhatteus Sampaio/TV Globo

Luis Carlos de Lima participou de resgate a vítimas de deslizamento de barreira em Jardim Monte Verde — Foto: Mhatteus Sampaio

O entregador de água Luiz Carlos mora numa parte mais alta de Jardim Monte Verde há 30 anos. Ele participou do resgate a uma vítima, que não resistiu. Nesta segunda, ele voltou ao local para distribuir comida e água às pessoas que fazem as buscas.

“Quando ouvi e vi o que aconteceu, peguei o carro num local ainda possível de passar, socorri uma pessoa para a [Unidade de Pronto Atendimento [UPA] do Ibura, mas ela não resistiu, infelizmente”, disse.

Em Jardim Monte Verde, uma mulher, que se identificou como Rosângela, disse que a maioria das vítimas era de uma mesma família. Ela contou que perdeu uma sobrinha em um dos deslizamentos que ocorreram no bairro.

“Eu moro lá em cima há mais de 20 anos. Aqui, é tudo família. Grande foi o desespero quando eu vi aquela barreira cedendo ali, que eu vi a minha amiga pedindo ajuda. Eu vi meu filho nas carreiras para ajudar ela e o esposo. Em compensação, não teve jeito para tirar a minha sobrinha Thais”, disse.

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