Aulas interrompidas e alunos do lado de fora. Na manhã desta terça-feira (9), cerca de 30 alunos do Colégio Tiradentes, que pertence à Polícia Militar, precisaram de atendimento médico depois que foram atingidos por gás lacrimogêneo.
De acordo com a corporação, a substância era usada durante um treinamento na escola de formação de militares, que fica ao lado, no bairro Prado, Região Oeste da capital mineira. Mas no dia a dia quando o gás é usado?
Em entrevista à TV Globo, o especialista em segurança pública Jorge Tassi explicou como funciona.
“O gás lacrimogêneo, ou o gás CS, é um gás de dispersão de distúrbios. É importante que o policial conheça esse tipo de equipamento, ele é usado para dispersar multidões. De uma certa forma, ele acaba gerando irritações principalmente nas mucosas das pessoas. O suor acaba gerando mais ardência, uma vez que acelera as reações químicas e outros efeitos nessas situações. Em ambientes abertos esse gás pode fluir e, automaticamente, ele vai se dispersar e não vai gerar mais repercussões. A ideia dele é efetivamente gerar uma diminuição da capacidade da pessoa para práticas de violência em determinadas circunstâncias, de dispersar multidões raivosas em uma situação de distúrbio civil. Ele é utilizado em situações graves, em confronto social – coisas que não acontecem há um bom tempo na nossa sociedade”, disse.
Estudantes do Colégio Tiradentes receberam atendimento médico após contato com substância.
Questionado se, em caso de treinamento com risco, seria necessário suspender as aulas, o especialista afirmou que a instituição de ensino não deveria parar e que, após o incidente, a Polícia Militar deve avaliar o local em que o treinamento é realizado.
“Eu acredito que isso (o episódio), provavelmente, vai acabar gerando uma modificação dos locais onde vão ser utilizados. A escola não tem que sair, não tem que parar, não tem que cessar aula. Eu acho que a polícia vai readequar esse modelo de instrução da forma que ele está sendo utilizado, ampliar os graus de prevenção a risco nessa estrutura e, automaticamente, nós vamos ter uma vida comum a partir de então. Nós estamos lidando com armas muito sérias, que, apesar de terem o nome de armamento não-letal, na verdade, elas são consideradas menos letal, devem ser interpretado como equipamentos perigosos que precisam de controle muito rígido”, detalhou Tassi.
No último domingo (7), na área da escola de formação, um soldado ficou ferido após uma granada explodir nas mãos dele durante um curso. O espaço fica ao lado do colégio. Veja mapa:
“A Polícia Militar não tem esse tipo de granada que vê em filme: que explode e mata as pessoas. O nome de gás lacrimogêneo não é o correto. O correto é falar o dispersor de gás lacrimogêneo, que o foco dela é simplesmente expulsar o gás de sua própria câmera interna para que ele vá para o ambiente e, automaticamente, possa diminuir o grau de violência daquele distúrbio”, finalizou o especialista.
O caso
Cerca de 30 alunos da instituição, que pertence à Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), foram atingidos por gás lacrimogêneo, na manhã desta terça-feira (9). A unidade fica no Prado, bairro da Região Oeste de Belo Horizonte
De acordo com ela, antes do tumulto, não houve barulho, nem um sinal de que algo estava acontecendo.
“Eu lembro que senti minha garganta queimando . Saí rapido. Foi um caos. Levei um susto, né? Mas só depois entendi o que realmente estava acontecendo”, contou.
Os estudantes foram atendidos por militares do Corpo de Bombeiros, da Polícia Militar e equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Ao todo, trinta alunos foram atingidos. Vinte foram para hospital.
Em nota, a Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) informou que o Hospital João XXIII (HJXXIII) está recebendo as vítimas do incidente. Ainda não há o número total de pessoas admitidas na unidade por conta do ocorrido, mas, até o momento, ninguém deu entrada em estado grave.
A porta-voz da Sala de Imprensa da PM, major Layla Brunnela, explicou que, no local do treinamento, tinha uma barraca onde era armazenada uma pastilha de gás lacrimogêneo. Quando a barraca foi aberta, uma fumaça de gás se dispersou e foi levada pelo vento, chegando até a escola.
Para a Giovana Magalhaes, mãe de uma aluna do 9º ano, o colégio errou ao não suspender as atividades durante o curso.
“Fazer treinamento no mesmo horário de aula é muito complicado, né? Deviam ter tirado as crianças ou suspendido a aula de hoje”, disse.