O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, afirmou que vai avaliar sugestões de mudanças na portaria que obriga médicos a notificarem a polícia ao atenderem vítimas de estupro que desejam realizar um aborto legal. Pazuello participou de uma reunião fechada com os parlamentares nesta quinta-feira, 17.
“Há uma certa disposição de rever algumas questões que estão na portaria e deve ter alguma mudança no sentido de não constranger uma pessoa já tão humilhada, tão destruída, como a que foi vítima de violência”, afirmou o líder do PT no Senado, Rogério Carvalho (SE), após o encontro.
Pazuello participou de uma reunião fechada com os parlamentares nesta quinta-feira, 17
Procurado, o Ministério da Saúde respondeu que Pazuello está aberto às sugestões dos congressistas e que as propostas sobre a portaria serão analisadas pela equipe técnica da pasta.
Atualmente, a interrupção da gravidez é permitida em três situações: quando a gravidez é resultado de violência sexual, se não há outro meio de salvar a vida da gestante e em casos de fetos com anencefalia. A portaria publicada pelo ministério no dia 28 de agosto determina como obrigatório o aviso à autoridade policial “dos casos em que houver indícios ou confirmação do crime de estupro”.
Outro ponto questionado por senadores na reunião foi o dever de a equipe médica informar a possibilidade de “visualização do feto ou embrião por meio de ultrassonografia, caso a gestante deseje”, também prevista na portaria.
“O ministro se comprometeu em avaliar se tem alguma ilegalidade para, se for o caso, corrigir. A essência dessa portaria é identificar o estuprador que pratica esse crime hediondo e que antes ficava totalmente livre para fazer de novo”, relatou o senador Eduardo Girão (Podemos-CE).
No Congresso, houve tentativas para anular a portaria. O documento foi classificado como “completamente ilegal” pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O senador Humberto Costa (PT-PE) apresentou um projeto de decreto legislativo para suspender a norma.
As defensorias públicas de São Paulo, da União (DPU) e outras dez defensorias Estaduais também ajuizaram ação civil pública pedindo a revogação da portaria do Ministério da Saúde.
Quando a medida foi publicada, a antropóloga Débora Diniz afirmou que a mudança impõe medidas de “maus tratos” às vítimas de estupro. “Uma delas é o uso de tecnologia médica para assustá-las: a oferta de visualizar o embrião ou feto não é para cuidar da vítima, mas para ideologizar o aborto.”
Diretor do Hospital Pérola Byington, unidade de referência em aborto legal, o ginecologista André Malavasi afirma que algumas vítimas de estupro podem se sentir constrangidas ou ameaçadas em buscar o atendimento com a nova regra.