O escritor Olavo de Carvalho endossou o coro de conservadores que consideraram péssimos os resultados do primeiro turno das eleições no domingo (15) e sugerem uma reorientação da direita no país.
“O péssimo desempenho dos bolsonaristas na eleição não tem mistério nenhum”, escreveu Olavo nas redes sociais. “O presidente confiou demais no sucesso inevitável da sua liderança pessoal, sem perceber que ela não passava, precisamente, disso: uma liderança pessoal sem respaldo militante e incapaz, por isso, de transmitir seu prestígio a qualquer aliado”, disse.
Jair Bolsonaro (sem partido) tenta se desvencilhar da derrota em seu primeiro teste como cabo-eleitoral. Dos 59 candidatos que apoiou, apenas 13 se elegeram. Nesta segunda (16), o presidente voltou a levantar suspeitas sobre a lisura das urnas eletrônicas, sem apresentar provas.
Assessor do presidente prega autocrítica
“Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem que ser confiável e rápido. Não deixar margem para suposições. Agora [temos] um sistema que desconheço no mundo onde ele seja utilizado. Só isso e mais nada”, disse Bolsonaro ao conversar com um grupo de apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.
O assessor especial da Presidência para assuntos internacionais e um dos quadros do conservadorismo no país, Filipe Martins, compartilha a avaliação de Olavo de Carvalho e prega “autocrítica” ao falar do fracasso da direita nas urnas.
“Precisamos aprender com os nosso erros, tanto coletivos quanto individuais. Se seguirmos pensando, cada um, no erro do outro, seguiremos fracassando. A autocrítica deve ocorrer em todos os níveis: do nível governamental, passando pelo da base, até o nível pessoal”, escreveu o assessor, que dedicou dez tuítes ao tema.
Martins pontuou que, a nível municipal, é preciso envolvimento nos problemas reais das comunidades locais e organização estratégica.
“Temos que entender que nossa vitória em 2018 foi circunstancial, fruto de uma conjunção de fatores ocasionais com o arbítrio de nosso povo. Vencemos porque tínhamos o melhor candidato e também porque tínhamos uma conjuntura favorável, construída desde 2013”, afirmou.
A avaliação, que poderia ser confundida com análises à esquerda após a derrota acachapante para o bolsonarismo em 2018, também tem sido endossada desde a noite de domingo por parlamentares e influenciadores conservadores.
Um deles é o deputado estadual Douglas Garcia (PTB-SP), eleito em 2018 pelo PSL, que também lançou mão do termo “autocrítica”.
“O PSOL fez um número de cadeiras absurdo na Câmara Municipal de SP. Nós, conservadores, precisamos urgentemente fazer uma autocrítica sobre organização. Estes quatro anos de política municipal serão difíceis e o que sofremos hoje fica de lição para 2022 nas majoritárias”, escreveu Garcia.
À reportagem, ele afirma considerar legítima a desconfiança das urnas -e até mesmo se inclui nesse grupo-, mas diz que isso não pode ser “usado como desculpa”.
De acordo com o deputado, a direita precisa se reorganizar em torno de valores, princípios e pautas. Ele ainda diz que não será possível formar uma base de apoio orgânica entre o “povão” se não existirem partidos que abriguem tendências políticas conservadoras.
“Não é autocrítica com relação ao que defendemos. Nós estamos errados pelo método, pela organização, pela forma, por não pensar de forma mais estratégica”, diz.
“Não existe elitismo na direita. Nós conseguimos conversar com o povão tranquilamente. É inegável que a população brasileira é conservadora, e pra gente o diálogo é muito mais fácil.”
As eleições de 2020 seriam outras se o partido de Bolsonaro, Aliança pelo Brasil, estivesse formado? Garcia diz pensar que sim, mas insiste na defesa de que quanto mais partidos conservadores, melhor para a direita. “Enquanto a gente não se organizar, não se deter em princípios, vamos ficar nessa: perdidos”, afirma.