Um memorando assinado por delegados e agentes da Polícia Civil de Januária, que atende a oito cidades no Norte de Minas, denuncia um esquema em que policiais militares estariam distorcendo a gravidade dos crimes registrados em mais de 500 Boletins de Ocorrência (BOs) para “promover a redução da criminalidade em Minas”.
Em um dos casos citados, uma ocorrência onde uma criança de 5 anos era abusada sexualmente pelo avô foi tipificada como infração contra a dignidade sexual. Outra ocorrência destacada descreve que o autor estava com a arma voltada para a cabeça da vítima quando fez o disparo, mas o boletim registra o fato como lesão corporal, e não como tentativa de homicídio.
Memorando assinado por delegados e agentes da Polícia Civil de Januária, no Norte de Minas, denuncia um esquema registrado em cerca de 500 Boletins de Ocorrência
O delegado Flávio Cavalcanti é um dos signatários do documento. Ele disse que não poderia falar com a reportagem por estar impedido pela Corregedoria da Polícia Civil. Mesmo assim, ele reafirmou o conteúdo do memorando e disse acreditar que a prática não está restrita apenas à sua região. “Isso pode estar acontecendo em todo o Estado, basta comparar os índices apresentados de criminalidade e o que vemos de fato acontecendo”, disse Cavalcanti.
De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), um grupo de trabalho foi criado para apurar a denúncia. As polícias Militar e Civil não haviam se pronunciado até o fechamento desta edição.