Por Luiz Gonzaga Neto,
Tribunal de Contas de MT investiga se pessoas usaram CPFs de mortos para furar fila de vacinação
Mato Grosso tem um dos piores ritmos de vacinação contra a Covid-19 do país e, segundo levantamento do Tribunal de Contas Estado (TCE), na lista de vacinados ainda aparecem possíveis irregularidades, como o uso de CPFs de 27 pessoas que já estariam mortas. Os dados foram cruzados com informações com diversas bases de dados – como a do Sistema Nacional de Óbitos.
Cerca de 100 nomes apareceram com algum tipo de irregularidade e, de acordo com o levantamento, 27 pessoas teriam recebido doses da vacina depois de já terem morrido.
Em março, a Controladoria Geral da União havia realizado o mesmo cruzamento de informações. Foram encontradas inconsistências em cerca de 50 mil nomes.
Em 16 de outubro do ano passado, Elvira Furlan, de 84 anos, se sentiu indisposta, começou a tossir e ter dor de cabeça. A filha Gicelda Cargnin levou a mãe ao médico, mas ela não resistiu.
No atestado de óbito, a causa foi pneumonia.
Só que agora, o sistema de informações do Programa Nacional de Imunizações mostra que Elvira teria recebido a primeira dose da vacina contra a Covid no dia 4 de março deste ano, cinco meses depois de ela ter sido sepultada no cemitério de Vera, cidade do Norte de Mato Grosso.
Cerca de 100 nomes apareceram com algum tipo de irregularidade e, de acordo com o levantamento, 27 pessoas teriam recebido doses da vacina “depois de já terem morrido”.
“Como que minha mãe ia tomar vacina se faleceu em outubro de 2020? 16 de outubro de 2020. Não existe, não tem como, não é justo. Não tinha vacina, não tinha chegado ainda”, disse a filha.
O TCE quer saber se o CPF de pessoas que, em tese fariam parte do grupo de prioritários, mas que já estão mortas, foi usado por outros para furar a fila.
O presidente do TCE, Guilherme Maluf, disse que o órgão encontrou irregularidades.
“Identificamos 27 suspeitos em 22 municípios e estamos aguardando a defesa desses municípios. Demos 15 dias para que esses municípios se pronunciem sobre esse fato. Talvez não tenha sido um delito, simplesmente uma falha. Pode ser o nome homônimo. Agora obviamente que se constatado que foi feito um delito, nós vamos tomar as medidas necessárias, vamos usar a Justiça, o Ministério Público, todas as ferramentas para responsabilizar essas pessoas que estão burlando a fila”, disse Maluf.
No mês passado, a CGU fez o mesmo cruzamento de informações para saber se as vacinas estão sendo aplicadas nas pessoas certas.
Foram encontradas inconsistências em cerca de 50 mil nomes.
A CGU está investigando e afirma que apesar de o percentual de inconsistências ser pequeno (no máximo 0,5%) do total de vacinados do país, o desrespeito à ordem de vacinação dos grupos prioritários, além de grave desvio ético, poderá ocasionar a responsabilização administrativa ou judicial dos envolvidos.
“Vai ter que ser apurado isso aí porque não é justo. Não pode de jeito nenhum. Minha mãe está descansando lá no céu e aqui embaixo estão usando o documento dela. Eu não acho certo não. não é justo”, diz Gicelda.