Candidatos que disputarão o segundo turno para a Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas (PSDB) e Guilherme Boulos (PSOL) trocaram acusações sobre experiência de gestão pública e uso de discurso de ódio no primeiro debate de TV nesta etapa da disputa.
Ao contrário dos debates do primeiro turno, marcados por ataques pessoais, nesta segunda-feira (16), na CNN, Boulos e Covas focaram suas falas em questões locais e problemas da cidade, mas abriram espaço para troca de farpas.
O principal embate se deu em pergunta sobre a baixa popularidade de seus principais apoiadores políticos, o ex-presidente Lula (PT) e o governador João Doria (PSDB).
Covas foi criticado durante a campanha por esconder Doria, de quem foi eleito vice-prefeito em 2016. O prefeito voltou a afirmar que está “na eleição para prefeito, não qual padrinho importa mais”. A eleição quer comparar “o currículo de cada candidato”.
“Há uma diferença entre apoios que você recebe e a sua relação com o Doria. Porque quem foi eleito prefeito há quatro anos foi o João Doria. Você foi vice dele. O João Doria, seguindo uma tradição dos tucanos, abandonou a prefeitura, abandonou a cidade, usou a cidade como trampolim para virar governador”, disse Boulos.
Ao contrário dos debates do primeiro turno, marcados por ataques pessoais, nesta segunda-feira (16), na CNN
Boulos lembrou que Doria foi eleito sob o argumento de que era o candidato de Bolsonaro em São Paulo, sob o lema “BolsoDoria”, e afirmou que isso fez parte do movimento que trouxe ódio ao debate político, em suas palavras.
A fala serviu como tentativa de colocar Covas como representante de uma política mais agressiva. A estratégia é tentar se livrar da pecha de radical, que o prefeito, que se vende agora como o candidato moderado, tenta colocar sobre Boulos. “Foi em 2018 que surgiu o BolsoDoria, que expressava o voto de rancor, de ódio, de violência”, disse o candidato.
Pouco depois, Covas reagiu. Em um bloco de comentários sobre orçamento, afirmou que Boulos é inexperiente e “acostumado a mandar”.
“Até entendo a dificuldade do Guilherme Boulos. Ele, como chefe de um movimento, tá acostumado a mandar. Mas ser prefeito é mais do que isso”, disse Covas.
Boulos respondeu lamentando que Covas “tenha entrado no vale tudo pra ganhar a eleição, para querer ter o voto nesse segundo turno de pessoas mais simpáticas ao Jair Bolsonaro”, disse o candidato, em mais uma tentativa de tirar do adversário a imagem de moderado.
“Você tenta ser aquilo que você não foi até aqui. Querer criminalizar movimento social”, disse, ao questionar ter sido identificado como “chefe de movimento”.
“Ontem eu até fiquei assustado quando eu vi o seu discurso à noite após a apuração dos votos. Discurso cheio de raiva. Não sei, talvez porque você achou que a eleição estava ganha, ficou preocupado com o crescimento que tivemos nessa reta final e agiu dessa forma”, disse Boulos. “Ficar apelando, atacando movimento social, fazendo eco ao discurso autoritário. Você pode ser muito melhor que isso”, concluiu.
Covas, por sua vez, rebateu afirmando que Boulos quer “ser o dono da verdade”, enquanto a função do prefeito é “saber agregar e ouvir todo mundo”.
“O radicalismo ideológico sabe criticar, mas não sabe como reduzir crimes na cidade de São Paulo”, disse o tucano.
O tema da pandemia também foi presente no debate. Questionados sobre o que fazer em caso de uma nova onda de contaminações e mortes por Covid-19, Boulos criticou a condução do combate à doença feito pela prefeitura e questionou a priorização da construção de hospitais de campanha, provisórios, à ampliação da capacidade de estruturas fixas e já existentes.
A crítica do candidato, no entanto, acaba respingando no trabalho de seu pai, o médico Marcos Boulos, que trabalha no comitê de contingenciamento da doença no estado. Nome importante da área da saúde no governo paulista, as ações do governo eram tomadas em conjunto com a prefeitura, e a gestão Doria também investiu em hospitais de campanha.
Covas criticou a fala do adversário e disse ser “muito fácil agora ser engenheiro de obra pronta”. Ao responder ao adversário sobre qual posição ele tem sobre a disputa política entre Bolsonaro e Doria quanto à vacina, o prefeito chamou de “lamentável querer partidarizar uma questão que é técnica, da área da ciência”.
Entre os temas municipais, os candidatos apresentaram propostas para a cracolândia, saúde, população em situação de rua e iluminação.
Boulos criticou as parcerias público-privadas, afirmando que elas elitizam serviços que deveriam ser fornecidos pela prefeitura, como habitação. Já o tucano defendeu as privatizações como forma de desafogar o poder público para focar no essencial.
O candidato do PSOL acenou para a periferia em diversas oportunidades e afirmou que a gestão tucana abandonou os extremos da cidade. Também defendeu contratação emergencial de médicos e novos concursos para a guarda municipal.
Ao tratar do que considera avanços na cracolândia, por exemplo, Covas fez críticas a gestão anterior, de Fernando Haddad (PT), e criticou as propostas de Boulos, voltando a afirmar que o candidato não tem a experiência necessária para ser prefeito.
“Política não se faz com discurso bonito”, disse Covas, defendendo gestão e organização.
Boulos rebateu afirmando que Covas “tenta fazer insinuações” sobre sua experiência de forma jocosa e não respeitosa.
“Eu tenho muito orgulho da minha experiência no movimento social nos últimos 20 anos onde eu aprendi a sentir a realidade das pessoas. […] Essa experiência te dá uma sensibilidade social, Bruno, que eu acho que você deveria experimentar, que nenhum mandato te dá”, respondeu.
Boulos afirmou ainda que a propaganda que Covas faz da cidade é irreal e exibe como prontos hospitais ainda não finalizados. Criticou também a demagogia de Doria, que afirmou que iria acabar com a cracolândia e enfatizou sua área de atuação, a dos sem-teto.
“Não aceito que na cidade mais rica do Brasil tenha gente que mora na rua”, disse.
Boulos e Covas debateram ainda sobre saneamento básico, dívida ativa e reforma tributária, temas técnicos que não foram muito durante o primeiro turno, marcado por críticas bastante contundente entre os debatedores.
O candidato do PSOL criticou o modelo de aterros sanitários adotado por São Paulo. Ele citou que aterros sanitários aumento o efeito estufa e questionou por que o prefeito não mudou esse modelo.
“Temos um contrato de concessão que vai até 2024. O grande momento de rediscutir esse contrato é nessa próxima gestão”, disse Covas, citando que terá foco em conceitos como logística reversa, que exige que as empresas cuidem do lixo que produz.
Covas fez tréplica dizendo que investirá em ecoparques para lixo reciclável, como em Barcelona.
O prefeito questionou sobre a reforma tributária que tramita no Congresso que, segundo ele, retira mais de R$ 10 bilhões da cidade.
Ambos concordaram sobre o assunto. “Sou totalmente contra qualquer tipo de retirada não só do município de São Paulo, mas dos municípios e estados de forma geral. Já temos concentração de recursos na União”, disse.
O clima esquentou um pouco mais após Boulos questionar sobre problemas em contratos de varrição, ao que Covas rebateu dizendo que “se tem algo que me é muito caro são os princípios morais que aprendi dentro de casa”.
Em debate sobre habitação, Covas prometeu voltar com os mutirões.
“A geração de emprego, renda e oportunidades é o grande desafio do próximo prefeito”, disse Covas, dizendo que a prioridade da gestão na cidade deve ser o combate às desigualdades –mesma bandeira do rival.
Ao debater urbanismo, Boulos alfinetou o tucano, dizendo que reformas de calçadas não devem ocorrer “só na véspera de eleição”, em alusão ao fato de o atual prefeito ter revitalizado calçadas nas últimas semanas.
Nas considerações finais, o candidato do PSOL agradeceu aos eleitores que votaram nele e fez um aceno aos que estão insatisfeitos com a atual gestão, dizendo que 70% dos que foram às urnas neste domingo sinalizaram um desejo de mudança. “As pessoas votaram com esperança, não com ódio”, disse.
Covas destacou o fato de ter vencido em todos os distritos eleitorais da capital. “É a experiência que neste momento de crise faz a diferença para que a gente possa seguir avançando. A esperança vai vencer os radicais no segundo turno, como venceu no primeiro turno”, afirmou.