Um policial militar é apontado como o principal suspeito pelo assassinato de Giovanne Gabriel de Souza Gomes, de 18 anos, ocorrido no dia 5 de junho deste ano na Região Metropolitana de Natal. Conforme os delegados da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) informaram em coletiva de imprensa nesta quarta-feira, 19, as investigações indicam que o jovem foi confundido com um assaltante de carros, que horas antes havia assaltado o veículo de um parente do PM.
O policial foi preso por agentes da Polícia Civil do Rio Grande do Norte e não teve a identidade revelada. Ele foi recolhido ao Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, em Natal, onde deverá cumprir prisão temporária.
Giovanne Gabriel de Souza Gomes, de 18 anos, foi assassinado no dia 5 de junho deste ano
Conforme detalhado pelo diretor da DHPP/RN, o delegado Márcio Lemos, Giovanne Gabriel andava de bicicleta a caminho da casa da namorada, no município de Parnamirim, vizinho a Natal, quando foi abordado por policiais que ocupavam uma viatura da Polícia Militar do Rio Grande do Norte (PMRN).
Segundo relatado, o jovem tinha as mesmas características físicas – estatura, cabelo e cor da pele – do verdadeiro autor do assalto, posteriormente identificado e preso. Giovanne então teria sido colocado na viatura, deixando para trás a bicicleta, o aparelho celular e um par de tênis. Ele foi levado à zona rural de São José de Mipibu, também na região metropolitana de Natal, onde foi executado. O corpo foi encontrado dias depois, com as mãos amarradas e um tiro na cabeça.
“A gente efetuou a prisão de um policial militar que está no contexto investigativo da autoria. A gente vai terminar, no prazo de 30 dias da prisão temporária, as demais condutas e individualizar a participação de cada um”, relatou o delegado Márcio Lemos, um dos responsáveis pela investigação do caso, que teve repercussão nacional e envolveu até mesmo um pedido de empenho feito pela governadora Fátima Bezerra (PT/RN) nas redes sociais à DHPP para uma célere elucidação do homicídio.
O crime
Conforme detalhado na coletiva de imprensa, o roubo do veículo do parente do policial envolvido na morte de Giovanne Gabriel aconteceu no dia do desaparecimento do jovem, 5 de junho passado. A viatura da PM, pertencente ao 8º Batalhão, que é responsável pelo patrulhamento ostensivo de uma região distinta da qual estava no momento da abordagem, condução e crime foi apreendida pela Polícia Civil e passará por perícia, com o objetivo de identificar resquícios de material genético de Giovanne Gabriel.
“A lógica e o desenvolvimento dos fatos indicam que ele foi colocado na viatura e levado até o local onde o corpo foi encontrado, e lá teria sido morto, na mesma manhã do roubo. Essa viatura não deveria estar no local”, ressaltou o delegado Cláudio Henrique, também da DHPP.
As provas colhidas apontam o envolvimento de agentes da segurança pública, disseram os delegados. “Hoje, a gente conseguiu identificar o motivo, identificar a forma, e estamos encaminhando para identificar completamente a autoria. Foi um trabalho investigativo bastante complexo, que envolveu a participação da Polícia Militar, sem a qual a gente não lograria êxito”, destacou Henrique.
Os investigadores descartaram a possibilidade de participação de Giovanne Gabriel no assalto ao veículo do parente do PM. “Esse crime terminou se desenrolando com o óbito do garoto. Não há nenhuma prova do envolvimento do garoto. Nós identificamos um dos autores. Nós anulamos que seja o Gabriel. O veículo roubado foi localizado e recuperado, levado à Delegacia”, explicou Claudio Henrique.
Os demais PMs que ocupavam a viatura usada na ação que culminou no assassinato do jovem também devem ser ouvidos
Inquérito
O titular do Comando do Policiamento do Interior, Cel Castelo Branco, da PMRN, participou da coletiva de imprensa. “A Polícia Militar participou ativamente das investigações da Polícia Civil. A Polícia Militar não compactua com nenhuma conduta que não seja dentro dos princípios da legalidade e que, paralelamente à investigação da Polícia Civil, nós abriremos um procedimento interno através de sindicância e, posteriormente, inquérito policial militar para também apurar as circunstâncias do fato”, disse.
O coronel detalhou, ainda, que o policial militar se encontra à disposição da investigação, devidamente resguardado no Quartel do Comando Geral da Polícia Militar, onde foi ouvido pelos delegados. “É muito duro cortar na própria carne, mas temos que fazer o nosso trabalho. Condutas desabonadoras de policiais militares ou quaisquer outros servidores públicos, elas não são compatíveis com os cargos ocupados”, reiterou o comandante.
Sobre o uso da viatura da PMRN para uma ação com interesses particulares de um policial militar e seus familiares, o coronel Castelo Branco foi enfático. “Não é comum a viatura do 8º Batalhão se deslocar para outra área de patrulhamento. Será apurada a responsabilidade por esse caso também”.