Vendedora de loja de cosméticos recebe conteúdo racista ao enviar mensagem de aniversário para cliente: ‘Eu odeio negros’

Fonte: G1 Grande Minas

Uma vendedora de uma loja de cosméticos recebeu uma mensagem racista ao entrar em contato com um cliente por um aplicativo do estabelecimento para parabenizá-lo pelo seu aniversário. O homem respondeu as felicitações com a frase: ‘Eu odeio negros’. O caso foi em Unaí, no Noroeste de Minas.

Em entrevista ao G1, a funcionária Ludmila Lorrayne Pereira dos Santos, que é negra, disse que as mensagens do aplicativo são automáticas e são enviadas em datas de aniversário ou oferecendo algum produto aos clientes. No texto, consta sempre o nome da vendedora, mas não aparece foto.

“Não dava para saber que eu sou negra, a não ser que ele me conheça. O cadastro dele é recente e não me lembro de ter atendido essa pessoa. Acredito que a mensagem racista pode não ter sido direcionada diretamente para mim”.

Ludmila conta que a mensagem de aniversário foi enviada para outro cliente no mesmo horário e a resposta foi bem diferente.

“Ele respondeu: ‘Obrigado por lembrar de mim’ e na outra mensagem tinha: ‘Eu odeio negros’. Eu fiquei chocada, li e reli várias vezes para depois mostrar aos meus colegas, achei que poderia ter digitado errado. A Central responsável pelo aplicativo diz que é a primeira vez que recebe mensagem de preconceito. Trabalho na loja há dois anos e também nunca sofri preconceito”.

Ludmila trabalha na loja há dois anos — Foto: Arquivo pessoal
Ludmila trabalha na loja há dois anos — Foto: Arquivo pessoal

A loja levantou os dados do cliente e foi registrado um boletim de ocorrência na delegacia de Polícia Civil nesta sexta-feira (16).

“A maioria das pessoas se calam, mas quero que ele saiba que não vamos nos calar. Queremos que haja punição para que não aconteça com ninguém qualquer tipo de preconceito. Já recebi muitas mensagens de apoio e carinho dos meus colegas”.

O dono da loja, Kellyman Andrade, lamentou o ocorrido pelas redes sociais e disse que todas as medidas estão sendo tomadas.

Mensagem foi enviada de forma automática por um aplicativo e não aparecia a foto da funcionária. Ludmila Lorrayne Pereira dos Santos, que é negra, acredita que o conteúdo racista pode não ter sido direcionado diretamente a ela. Caso foi em Unaí, no Noroeste de Minas.

“Um episódio lamentável, sem explicação, sem o menor cabimento nos dias de hoje. É inadmissível que isso continue acontecendo. Eu acho importante a gente ir atrás, descobrir quem é para que essa pessoa seja responsabilizada e que responda pelos crimes que cometeu. Fazendo isso, incentivamos todas as pessoas que sofre qualquer tipo de preconceito para que procure os seus direitos”.

Aceitação

Após passar por processo de aceitação, Ludmila compartilha sua rotina nas redes sociais — Foto: Redes sociais
Após passar por processo de aceitação, Ludmila compartilha sua rotina nas redes sociais — Foto: Redes sociais

“Até os 15 anos eu desejava ser igual às meninas brancas e ter cabelo liso, mas passei por um processo de aceitação e tudo mudou dentro de mim. Essa mensagem [do cliente] não me afetou, mas a Ludmila de antigamente teria ficado muito mexida”.

A internet foi uma das grandes aliadas da Ludmila nesse processo e hoje, aos 25 anos, ela usa as redes sociais para incentivar outras pessoas.

“A internet me ajudou muito, eu via como as blogueiras agiam. Passei pela transição capilar e aceitei o meu cabelo, que mexia muito com a minha autoestima. Comecei a postar fotos e agora, mostro meu cabelo, dou dicas de maquiagem e alimentação. Quero incentivar as pessoas a se aceitarem. Hoje eu recebo muitos elogios e sou inspiração para minhas clientes”.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *