Quatorze pessoas foram presas em uma operação da Polícia Civil que desarticulou uma organização criminosa que atuava na Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá, no Norte de Minas. A operação Trojan cumpriu ainda 11 mandados de busca e apreensão e 16 de bloqueios de contas bancárias. Entre os presos, estão cinco policiais penais que foram afastados dos cargos.
“A organização criminosa atuava dentro da penitenciária facilitando fugas de presos e entradas de aparelhos telefônicos e outros objetos ilícitos. Cada aparelho telefônico tinha o valor em média de R$ 15 mil, mas variava de acordo com a demanda”, informou o delegado Alberto Tenório.
As investigações da Polícia Civil começaram em setembro de 2019 após uma fuga de três presos. Na época, eles serraram as grades que davam acesso ao pátio de banho de sol e usaram uma tereza, que é uma corda improvisada, na fuga.
Foram cumpridos 14 mandados de prisão e cinco policiais penais foram presos. Segundo a PC, eles facilitavam fugas de detentos e entradas de aparelhos telefônicos na unidade. A Sejusp informou que não compactua com desvios de conduta dos seus servidores e disse que os cinco presos vão responder administrativa e criminalmente pelos seus atos.
“Foi uma fuga completamente anormal, ficou notória a participação de servidores. Durante o trabalho conseguimos identificar que alguns agentes forneceram serras e teriam recebido essas encomendas pessoalmente e também por meio de sedex. Eles articulavam a data da entrega exatamente no dia que estavam de serviços, para facilitar a entrega e daí tentar a fuga”, disse o delegado.
Durante as investigações, foram apreendidos 100 aparelhos telefônicos na penitenciária e a Polícia Civil analisou mais de 100 mil ligações.
“Foram 80 ocorrências com apreensão de 100 celulares com características de terem sido colocados no local por policiais penais. Fizemos análise de todas as ligações o que culminou em mais de 18 mil linhas telefônicas utilizadas nesses aparelhos. Verificamos a participação de todos esses agentes e conseguimos identificar que dentro da penitenciária tinha dois presos, que realizavam o trabalho de faxina, e eram os articuladores”.
O delegado Alberto Tenório explica que os dois detentos negociavam os aparelhos telefônicos com outros presos com poder aquisitivo maior.
“Eles faziam a articulação com os detentos para adquirir os telefones, e com os agentes, que entravam em contato com parentes dos presos”.
Em nota, a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), informou que participou da operação e contribuiu com as informações necessárias. A Sejusp esclareceu que não compactua com quaisquer desvios de conduta dos seus servidores e disse que os cinco presos vão responder administrativa e criminalmente pelos seus atos.
Prisões
Além dos cinco agentes, a Polícia Civil prendeu uma advogada, um comerciante de Francisco Sá e parentes de detentos. Os outros mandados de prisão foram cumpridos contra três homens que já estavam detidos.
“A advogada fazia a interlocução dos presos [clientes dela] com os agentes penitenciários, fazia a defesa em procedimentos administrativos desses presos que estavam adquirindo telefones. Muitas vezes também, ela tentava retirar a imputação em procedimentos administrativos de presos que eram flagrados por meio de monitoramento interno com os celulares”, explicou o delegado Alberto Tenório.
“O comerciante de Francisco Sá forneceu a conta bancária para recebimento dos valores de janeiro a setembro de 2019. Nesse período foi identificada a movimentação de R$ 112 mil. Ele realizou alguns saques para o principal agente penitenciário alvo da operação”.
Como os nomes dos envolvidos não foram divulgados, o G1 não conseguiu falar com a defesa deles. Se algum advogado se manifestar, esta reportagem poderá ser atualizada.
Operação Muralha
A operação Trojan faz parte de um desdobramento da operação Muralha, realizada em 2019, que desarticulou uma organização criminosa que comandava crimes de dentro de presídios em Minas e no Paraná.
Os integrantes da organização davam ordens para execução de vários crimes, como roubo de cargas milionárias e a venda de drogas. Eles usavam celulares para que as orientações chegassem até os responsáveis por executá-las. Na época, foram expedidos 40 mandados de prisão e 11 de busca e apreensão.
“Dos 40 alvos de prisão preventiva, 30 estavam presos e são pessoas de altíssima periculosidade, que cometiam crimes como homicídios, tráfico de drogas, assaltos, lavagem de dinheiro, entre outros”, explicou o delegado Alberto Tenório no dia da operação.
Entre os alvos, havia 11 homens que cumpriam penas na Penitenciária de Segurança Máxima de Francisco Sá e foram transferidos para presídios federais.
Veja a nota da Sejusp na íntegra
A Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), por meio do Departamento Penitenciário de Minas Gerais (Depen-MG), participou da Operação Trojan, deflagrada pela Polícia Civil nesta quarta-feira (25). Policiais Penais participaram, juntamente com Policiais Civis, do cumprimento de mandados de prisão e de busca e apreensão em Francisco Sá, no Norte de Minas.
As investigações estão sendo capitaneadas pela Polícia Civil de Minas Gerais e a Polícia Penal contribui com as informações necessárias. O Depen-MG ressalta que não compactua com quaisquer desvios de conduta dos seus servidores. Um dos focos da gestão da Sejusp é o enfrentamento e o combate à atuação de Organizações Criminosas e à corrupção. Operações como esta são fundamentais em todas as esferas para que o serviço público seja desempenhado com a eficácia e o comprometimento merecidos pela população mineira.
Respeitado o direito a ampla defesa e o contraditório, todos os servidores do Depen-MG investigados pela Polícia Civil responderão, quando couber, administrativa e criminalmente pelos seus atos. Os cinco policiais penais investigados, após o fim dos procedimentos, serão encaminhados para unidades prisionais, onde ficarão presos preventivamente aguardando os trâmites judiciais.