Exército comunica suspensão de Operação Carro-Pipa no semiárido mineiro: ‘Baque muito grande e ocorrerá no período mais crítico’, diz prefeito

Fonte: G1 Grande Minas

O Exército comunicou a suspensão da Operação Carro-Pipa em municípios localizados na região Norte, no semiárido mineiro. O programa distribui água potável às comunidades afetadas pela seca e é resultado da cooperação entre os Ministérios do Desenvolvimento Regional e da Defesa.

Por meio de um ofício, o 55º Batalhão de Infantaria do Exército, com sede em Montes Claros, informou às prefeituras que a operação será suspensa a partir de 20 de setembro. O comunicado explica que o recurso previsto para essa finalidade, conforme prevê a Lei Orçamentaria Anual, já foi totalmente utilizado.

O documento, de caráter urgentíssimo, tem data de 12 de agosto e está assinado pelo coronel Hidelgard Borba de Vasconcelos, comandante do batalhão.

Por meio de um ofício, o 55º Batalhão de Infantaria do Exército, com sede em Montes Claros, informou às prefeituras que a operação será suspensa a partir de 20 de setembro.

Pelo Portal da Operação Carro-Pipa, cinco municípios de Minas Gerais são atendidos atualmente, Itaobim, Espinosa, Francisco Sá, Jaíba e Manga. Ao todo, 13 veículos abastecem a uma população estimada em 11.916 pessoas.

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que ficou estabelecido com o Governo de MG que ” o abastecimento por meio de carros-pipa fosse integralmente assumido pela Defesa Civil do estado no lugar no Exército Brasileiro.” A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) de Minas Gerais foi procurada pelo G1 e confirmou que irá atender os municípios.

G1 também procurou pelo Exército, Ministério Defesa e Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (Amams).

Ofício que a Prefeitura de Espinosa recebeu sobre a suspensão da Operação Carro-Pipa — Foto: Prefeitura de Espinosa
Ofício que a Prefeitura de Espinosa recebeu sobre a suspensão da Operação Carro-Pipa — Foto: Prefeitura de Espinosa

O prefeito de Espinosa, Milton Barbosa, diz que a Operação Carro-Pipa atende duas mil famílias no município.

“Calculando, em média, três pessoas por família, são seis mil pessoas desassistidas. A suspensão é um baque muito grande e ocorrerá no período mais crítico, de estiagem mais severa. Nós estamos falando de água para consumo humano, é água para matar a sede do ser humano.”

Milton Barbosa ainda destaca que o ofício foi recebido com surpresa e preocupação.

“Temos os carros-pipa do município, mas, infelizmente, não podemos atender com esse volume. Temos um planejamento e, por mais que serão feitas tentativas para suprir essa demanda, será muito difícil.”

Na tentativa de reverter a decisão, o prefeito afirma que tem conversado com outras lideranças políticas da região.

Água chegando em comunidade rural por meio do carro-pipa da Prefeitura de Espinosa — Foto: Prefeitura de Espinosa
Água chegando em comunidade rural por meio do carro-pipa da Prefeitura de Espinosa — Foto: Prefeitura de Espinosa

Localizada a aproximadamente 130 quilômetros de Espinosa, Jaíba também ficará sem a Operação Carro-Pipa. O coordenador da Defesa Civil, Jalisson Costa de Oliveira confirma o recebimento do ofício. Ele fala que 51 famílias são atendidas com a água potável entregue pelo Exército. Elas vivem em 22 comunidades.

Para ele, apesar do município também ter quatro carros-pipa próprios, a Prefeitura também vai ter dificuldades para fazer o abastecimento.

“Temos comunidades que ficam a 70 quilômetros da sede do município. A distância entre essas comunidades chega a dar 150, 170 quilômetros. Seria preciso pelo menos mais três ou quatro carros-pipa para tentarmos fazer a água chegar até pessoas.”

Embora esteja entre os municípios beneficiados pela Operação Carro-Pipa, Manga ainda não recebeu o ofício do Exército. O prefeito Anastácio Guedes destaca que duas mil pessoas, que moram em 28 comunidades, são assistidas.

Guedes também concorda que a Administração Municipal terá dificuldades em assumir a demanda deixada pela Operação Carro-Pipa. Ele aponta que o custo desse tipo de serviço é alto, os municípios não possuem recursos para compra ou locação de caminhões para serem usados no abastecimento.

“Essa atitude é desumana e vem de um governo que não preocupa com a sociedade, o que mais sofre, vai sofrer ainda mais. A suspensão é uma falta de respeito com as pessoas que necessitam dessa água para sobreviver”, desabafa.

Anastácio Guedes alerta que a falta de água potável vai trazer consequências.

“Sem água para consumo, as pessoas farão a ingestão da água que tiverem. Isso vai afetar diretamente na saúde delas e vai nos trazer outros problemas, já que teremos que tratar dessas pessoas que ficarão doentes.”

Posicionamentos

G1 procurou pelo 55º Batalhão de Infantaria do Exército e ainda aguarda retorno. Os questionamentos foram feitos em relação às localidades que serão afetadas, qual é a fonte do recurso utilizado na operação e sobre qual é o papel do Exército no abastecimento.

Em nota, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que ficou estabelecido com o Governo de MG que ” o abastecimento por meio de carros-pipa fosse integralmente assumido pela Defesa Civil do estado no lugar no Exército Brasileiro.”

O MDR garantiu que repassou R$ 5,4 milhões ao estado e afirmou que “a questão orçamentária federal não vai impactar as ações de abastecimento das cinco localidades antes atendidas pela operação federal.”

O Ministério ainda afirmou que está mantido o abastecimento dos demais municípios atendidos pela Operação Carro-Pipa Federal.

O Ministério da Defesa também foi procurado e ainda não se manifestou.

A Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec) foi procurada pelo G1 e confirmou que terá condições de atender os municípios a partir do dia 20 de setembro, com recursos provenientes do Ministério do Desenvolvimento Regional.

“Neste mês de agosto de 2021, o Gabinete Militar do Governador (GMG) e Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec), sabendo do possível término da operação realizada pelo Exército, após tratativas que vinham sendo realizadas, desde o final do ano passado com a Secretária Nacional de Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional, visitou os municípios de Manga, Espinosa, Francisco Sá, Jaiba e Itaobim, e se colocou à disposição para apoiá-los com a operação Transporte e Distribuição de Água Potável (TDAP)”.

Ainda de acordo com a nota, para ter acesso ao serviço os municípios precisam preencher o Plano Municipal de Distribuição de Água (PMDA).

“A partir do PMDA, a Defesa Civil Estadual acionará os Prestadores de Serviço e após o preenchimento do Plano pelo Município, contabilizando as comunidades, número de população, e a indicação, pelo Prestador de Serviço, da capacidade de transporte de cada caminhão disponibilizado, é que haverá condições de calcular o número exato de caminhões necessários que serão exigidos dos prestadores para atendimento da demanda total desses municípios”.

G1 também procurou pela Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (AMAMS), que informou que solicitou à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Regional, esclarecimentos sobre o fim da operação.

“O presidente da AMAMS, José Nilson Bispo de Sá, “Nilsinho”, prefeito de Padre Carvalho, conversou com o secretário nacional, Alexandre Lucas, quando foi informado que a partir de 28 de setembro o Exercito deixará de fazer a distribuição da água, mas a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil de Minas Gerais assumirá essa função. Ele tranquilizou que nenhum morador será prejudicado, desde que o município cumpra o protocolo, de decretar Situação de Emergência ou Calamidade Publica por causa da seca.”

Operação carro pipa atende cinco município do Norte de MG e Vale do Jequitinhonha — Foto: Operação Carro-Pipa/Reprodução
Operação carro pipa atende cinco município do Norte de MG e Vale do Jequitinhonha — Foto: Operação Carro-Pipa/Reprodução

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