Homem é preso suspeito de assediar ao menos 10 funcionárias em loja tradicional de BH

Fonte: G1 Minas 

Após um mês de investigações, a Polícia Civil prendeu o empresário Marcelo Rosa, de 44 anos, suspeito de assediar funcionárias dentro da loja Fio de Ouro, localizada no Centro de Belo Horizonte, na tarde desta quinta-feira (10). O estabelecimento tem 19 anos de funcionamento.

O pai dele, Luiz Carlos Rosa, de 68 anos, é suspeito de estuprar as funcionárias dentro da sala de estoque da loja. Ele é considerado foragido pela polícia, com mandando de prisão em aberto por estupro. Os dois são donos do estabelecimento.

As informações foram repassadas pela Polícia Civil na manhã desta sexta-feira (11), durante entrevista coletiva.

“Após a primeira funcionária registrar um boletim de ocorrência contra o idoso, conseguimos levantar outras 9 vítimas, destas quatro anônimas, que também citaram o filho como abusador. A partir daí foi deferido pedido de busca e prisão preventiva contra eles. Na loja, apenas o homem de 44 anos foi localizado”, contou a delegada Cristiana Angelini.

Segundo Cristina, no momento da prisão, ele negou as acusações e disse que se tratava de “desentendimentos trabalhistas”, mas segundo a delegada, a polícia conseguiu provas “robustas”, testemunhas e vítimas que contaram à polícia detalhes de como eles agiam.

Marcelo foi encaminhado para o Centro de Remanejamento do Sistema Prisional de Contagem, na Região Metropolitana de BH. Ele deve ser indiciado na próxima semana por importunação sexual, com até 5 anos de prisão.

Marcelo Rosa, de 44 anos, foi preso na tarde desta quinta-feira (10) dentro da loja Fio de Ouro, localizada no Centro de BH. O pai dele, Luiz Carlos Rosa, de 68 anos, é considerado foragido pela Polícia Civil. Os dois são suspeitos de assediar e estuprar funcionárias dentro do estabelecimento.

De acordo com a Polícia Civil, até as 12h desta sexta-feira (11), Luiz Carlos Rosa, de 68 anos, não havia sido localizado pela polícia. Ele deve ser indiciado por estupro, que prevê 6 a 10 anos de prisão.

O G1 tenta contato com os investigados.

“As buscas pelo idoso continuam e o inquérito deve ser encerrado nos próximos dias. Saliento a importância da vítima denunciar, sem ter medo, só assim, conseguiremos acabar com essa cultura machista e esse tipo de crime em BH”, disse delegada.

‘Alívio e ansiedade’

Uma das vítimas, de 24 anos, que conversou com o G1 no dia 11 de maio relatando os abusos que vinha sofrendo enquanto trabalhava na loja, disse, na manhã desta sexta-feira (11) que sente “alívio e ansiedade” com a prisão de um dos suspeitos.

“Choro de ansiedade e alívio, ao mesmo tempo. É uma vitória, pois fomos desacreditadas muitas vezes. Eu sofria muito, pois precisava do emprego, do dinheiro, mas percebi que nada compensa viver essas cenas de horror que vivi nestes anos”, falou a ex-funcionária.

Relembre o caso

Uma mulher, de 24 anos, ex-funcionária da loja Fio de Ouro, criou coragem e foi sozinha registrar um Boletim de Ocorrência na Delegacia de Mulheres, no Barro Preto, na Região Centro-Sul de BH, na segunda-feira (10).

A mulher relatou “cenas de tortura” que sofria durante o expediente. O primeiro assédio aconteceu há 7 meses. Ela pediu para não ser identificada na reportagem.

A vítima disse que tudo começou em outubro do ano passado, quando ela chegava na loja para trabalhar. A vendedora era uma das primeiras funcionárias a chegar ao local e, por diversas vezes, ficava sozinha na loja com o empresário. Durante este período, segundo a mulher, o idoso falava de seu corpo.

“Falava do meu corpo, do meu cabelo, da minha beleza, sempre com cunho sexual. Ele dizia que eu era do tamanho que ele queria, eu ficava acuada, tremendo de medo, mas continuava quieta e seguia atendendo os clientes”, disse ela.

O pesadelo continuou e, em uma manhã, quando ela estava dentro do estoque de bijuterias, o suspeito entrou e fechou a porta.

“Ele me agarrou e me encurralou na parede, eu tentei de todas as formas sair dali, mas ele me segurava forte, levantou minha camisa, passou a mão nos meus seios e nas minhas partes íntimas por debaixo da calça, por diversas vezes. Eu implorava para ser solta, mas ele não me ouvia. Cenas de tortura”, disse ela, emocionada.

A vendedora relatou que os ataques aconteceram diversas vezes e que ela não pedia demissão por medo. Ela veio do interior de Minas morar sozinha e trabalhar em Belo Horizonte. Ela seguiu no emprego sem contar para ninguém.

“Eu só trabalhava para pagar meu aluguel e contas, meu medo era de sair dali e não ter outro emprego e ser obrigada a voltar para minha cidade. Mas desde de dezembro, eu pedia demissão e ele não aceitava, ele dizia que me queria por perto ele falava: ‘Como vou ficar sem você aqui? Com pandemia lá fora você não vai conseguir emprego’. Eu só chorava”, contou.

Enquanto isso, o idoso seguia mostrando fotos de motel e fazia promessas caso ela quisesse “ter uma noite com ele”. Segundo ela, o suspeito dizia que a vendedora teria benefícios na empresa e melhoria de salários se aceitasse a proposta de sair com ele.

Em abril deste ano, ela resolveu contar para a mãe e para o namorado o que estava acontecendo em seu local de trabalho. Segundo ela, os dois a encorajaram a pedir demissão e ir até a polícia.

Vendedora registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Mulheres, em BH (Imagem ilustrativa) — Foto: Eullym Ferreira/ TV Globo
Vendedora registrou Boletim de Ocorrência na Delegacia de Mulheres, em BH (Imagem ilustrativa) — Foto: Eullym Ferreira/ TV Globo

“Quando falei que ia pedir minha demissão e denunciá-lo ele me disse que ia me demitir. No outro dia, ele depositou os valores na minha conta. Nunca mais pisei lá, nem dinheiro eu queria, por mim, sairia com uma mão na frente outra atrás”, contou.

A mulher ainda disse que, depois que foi demitida, ela descobriu que outras funcionárias também sofriam assédios do suspeito. Ela até criou um grupo de mensagens para combinar de irem juntas para a delegacia, mas nenhuma quis denunciar, “por medo”.

“Eu me sentia um lixo, um objeto, eu mudei meu comportamento totalmente, sofria muito. Hoje estou mais aliviada, só quero que a justiça seja feita e que nenhuma mulher passe por isso”, disse ela.

A Polícia Civil informou que o suspeito será intimado, mas não passou mais detalhes “para não atrapalhar as investigações”. A polícia ainda alertou, em nota, que ” toda mulher que for vítima deve efetivar o registro de ocorrência para que sejam tomadas todas as providências e a devida responsabilização dos autores”.

Em Belo Horizonte, a Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher funciona 24 horas por dia e está localizada na Avenida Barbacena 288, Barro Preto, na Região Centro- Sul da capital.

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